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  • Foto do escritorMateus Davi Pinto Lucio

Efeito Dunning-Kruger

Atualizado: 25 de ago. de 2018


“Efeito Dunning-Kruger?” Sim, isso existe. Sim, acontece. Sim, com você também. Sim, o

tempo todo.


Os psicólogos sociais David Dunning e Justin Kruger produziram esse estudo publicado em 1999 que rendeu a eles o Prêmio Nobel em 2000 que fala, em poucas palavras, que: “o engano do incompetente decorre de um erro sobre o eu, enquanto o engano do altamente

competente decorre de um erro sobre os outros”.


Um volume importante de pesquisas foram produzidas para determinar a causa do erro de avaliação da aptidão das pessoas para quaisquer tarefas e, se os resultados são

preocupantes, as conclusões podem ser aterradoras.


Tudo começou quando David Dunning, ao ler o jornal, ficou estupefato com a notícia que um homem assaltou a luz do dia dois bancos, sem usar máscaras, o que resultou em sua prisão poucas horas depois, em sua casa. Ao ser questionado pelo delegado a razão do meliante acreditar que não seria pego, qual não foi a surpresa ao ouvir que a resposta foi de que ele tinha visto na internet que se jogasse limão no rosto as câmeras não poderiam identificá-lo. Para piorar, o homem disse que testou, jogando limão no próprio rosto e depois tentando tirar uma foto de si mesmo e que, ao ver a sua imagem na câmera, realmente estava distorcida. Sim, estava! Porque ele tinha limão nos olhos, e não conseguia distinguir seu

rosto na foto que tirou de si.


Embora este seja um caso extremo, não é raro vermos nos noticiários ou redes sociais as pessoas mesmo sóbrias assumindo comportamentos obviamente equivocados que levam muitas vezes ao dano contra si mesmos. Mas por quê? Simplesmente “burrice”?


Dunning e Kruger conseguiram demonstrar que, na realidade, a incompetência nas ações das pessoas decorre da incompetência que a mesma tem de avaliar sua competência,

gerando uma superioridade ilusória. Explico.


Em um dos mais de 100 estudos realizados, pediram que engenheiros de programação de duas empresas se auto-avaliassem em termos de performance. 32% dos engenheiros de uma e 42% dos engenheiros de outra se colocaram entre os 5% melhores da empresa que trabalhavam. Oras, se em uma empresa com 100 pessoas, 42 se consideram entre os 5

melhores, seguramente, no mínimo, 37 não sabem se avaliar.


Não obstante, 88% dos motoristas americanos avaliaram que suas habilidades eram acima da média dos motoristas. Se 9 em cada 10 motoristas está acima da média, como se determina a média com um único motorista, a cada 10, que restou? Outra matemática impossível.


Não é um caso isolado e nem ocorre em culturas específicas. Os exemplos são vastos e se estendem a todas as áreas do conhecimento. Note que o fato é que quanto menos competência temos em determinado assunto mais tendemos a superestimar nosso conhecimento, que na verdade é diminuto, sobre ele. Via de regra, nós não reconhecemos

nossas lacunas de incompetência.


Pergunte a si mesmo: “de 0 a 10, sendo o 0 péssimo e sendo o 10 impecável, qual nota você dá a si mesmo como motorista?”. Independente da nota que você dê, ainda que baixa, o que é raro, você fatalmente cometeu um erro de avaliação. Mas por quê? Porque, provavelmente, você não tem os meios, as métricas e tampouco os métodos de avaliar a si ou a qualquer outra pessoa como motorista. Afinal, o que é um bom motorista? O que respeita as leis de trânsito? O que nunca tomou multas? O que nunca bateu? O que dirige carro de qualquer tamanho? O que dá a passagem quando alguém se aproxima ou o que não dá a passagem caso esteja no limite de velocidade da estrada? Tudo isso? Parte disso?

E qual o peso de cada atributo?


Perceba, somos incompetentes, no sentido de não termos adquirido a proficiência, para avaliarmos quão bem uma pessoa dirige, e mesmo assim o fazemos, e nos auto-avaliamos,

e geralmente nos superestimamos. Efeito Dunning-Kruger.


Outra situação relativamente cotidiana. Seguramente algumas vezes ao longo da sua vida você já falou ou ouviu alguém dizer que “minha dentista é muito boa”, correto? Oras, a não ser que a própria pessoa seja um odontólogo, com base em que ela conseguiu avaliar a capacidade profissional do dentista que a atende? Acaso três ou quatro consultas no ano, considerando as dezenas que um dentista faz por semana, tem valor pelo menos estatístico? E se as intervenções dentárias realizadas foram tão simples que até mesmo um mau dentista atenderia satisfatoriamente? E como sopesamos a complexidade das intervenções dentárias? Via de regra, não temos condições de avaliar a qualidade de nossos dentistas, e mesmo assim o fazemos, baseados meramente em nossas parcas experiências com eles, com uma opinião ainda por cima contaminada pela empatia evocada e pela estética do consultório, e ainda assim emitimos juízo de valor quanto aquele

profissional. Efeito Dunning-Kruger.


O conhecimento sobre o Efeito Dunning-Kruger é um convite ao calçar das sandálias da humildade. A aceitação que não podemos saber muito de tudo então devemos buscar conhecer mais para opinar melhor. Um interlocutor ignorante sobre um tema, mas que insiste em discutir sobre ele, sob o Efeito Dunning-Kruger, se assemelha a um míope tentando discutir sobre a forma de algum objeto, ou com um daltônico tentando discutir sobre as cores das coisas. Não é falta de inteligência, mas falta de competência, falta de aptidão.


Ao discutir, precisamos cuidar para não superestimar nosso conhecimento sobre o tema empoderando de propriedade nossas opiniões vãs, bem como sermos gentis e até condescendentes quando sabemos que o outro não tem condições de discutir em bom nível

determinado tema.


Agora, mais importante que todo o supracitado, é mantermos nossos olhos famintos por mais informação, preenchendo com a mente aberta todas nossas lacunas de conhecimento. E, fazendo assim, quiçá adquirindo proficiência para avaliarmos efetivamente quão bom somos, teremos todas as condições, resolutamente, para utilizarmos todo o nosso potencial, em todas as áreas do conhecimento, em todas as facetas da vida. Percorrendo essa estrada, talvez citemos Freud no porvir, quando o mesmo disse que “um dia, quando olhardes para trás, verás que os seus dias mais belos foram aqueles em que lutastes”.


Mateus Davi Pinto Lucio

GR Canis Majoris

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