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  • Foto do escritorMateus Davi Pinto Lucio

O Enigma da Bitcoin

Atualizado: 25 de ago. de 2018


Muito provavelmente um dos produtos da tecnologia mais controversos da atualidade, não obstante um dos mais mal compreendidos, fascinantes, incríveis, com um quê de enigmático e, para muitos, assustador.

Um pouco da história


De modo obscenamente reduzido, a história da Bitcoin, e, por conseguinte, de todas as criptomoedas e do conceito de Blockchain, remonta a virada dos anos 80 com 90, com os Cipherpunks, que resumidamente é qualquer pessoa ativista que advoga sobre mudanças políticas e sociais utilizando um profundo encadeamento de encriptação de mensagens para

resguardar a privacidade e anonimato.


Estes ativistas se comunicavam predominantemente pelos submundos da internet protegidos por infindáveis níveis de proxys, que são servidores para se conectar a outros servidores, impedindo ou dificultando o rastreamento, além da encriptação de mensagens, o

que dificulta um não destinatário de as ler.


Entre os diferentes grupos e subgrupos de cipherpunks, um deles, com membros predominantemente da Califórnia e Nova York, se engajaram na empreitada de levar a ideia de liberdade e anonimato ao próximo nível, de não mais somente poder se relacionar e comunicar anônima e irrastreavelmente, mais além, transacionarem valores de modo

igualmente obscuro.


Décadas mais tarde alguns personagens foram sendo revelados, mas, curiosamente, o mais importante de todos, Satoshi Nakamoto, até hoje não se sabe quem é. Quando essa figura apareceu no cenário já existiam vários rascunhos quanto a códigos em relação a

criação de uma moeda digital, com destaque para a Bit Gold.


O problema da Bit Gold e, não obstante, das moedas comuns emitidas pelos governos, é que elas exigem um órgão ou instituição centralizadora, qual a convalida, porém, pela mesma razão, a corrompe, por exemplo, inflacionando quando da produção indiscriminada de mais moedas, e, por outro lado, sendo um alvo certo e, por consequência, vulnerável,

seja de roubos tradicionais ou ciberataques.


Após vários anos, e com ajuda de seus pares, Satoshi resolveu a questão, descentralizando

o controle da moeda: a Blockchain.


Blockchain


Os Mineradores são supercomputadores criadores de códigos criptografados que criam um código novo para cada transação de bitcoins, e são remunerados com uma fração destes.


Quando uma pessoa deseja comprar por exemplo um bitcoin é enviado a todos os mineradores a necessidade da criação de um novo código para aquela transação, a qual precisa da validação de pelo menos outros três mineradores. Como é impossível prever quais computadores de quais mineradores produzirão os primeiros códigos mais rapidamente e convalidados, é virtualmente impossível corromper a Blockchain, o que torna impossível sua falsificação, bem como é impossível a criação ilimitada de bitcoins, pelas

travas do próprio código que a produziu.


Os bitcoins são, em outras palavras, os resultados criptografados extremamente longos e complexos de equações criptografadas extremamente longas e complexas. Os resultados produzidos pelas mineradoras vão para a Blockchain, que nada mais é do que o grupo gigantesco de todas as demais mineradoras ao redor do mundo que validam estes mesmos resultados.


O conceito de Blockchain de validação de informações por infindáveis partes independentes servem não só para moedas, mas para qualquer tipo de informação, código ou documento

que possa ser digitalmente transcrito e encriptado.


A ideia de ser possível hoje convalidar todo tipo de troca, de qualquer tipo informação, sem a necessidade de um órgão centralizador (Banco Central, Cartórios etc.), com mais qualidade e eficiência do que estes, é não só algo espetacular por si só, como é

inegavelmente ímpar na história da espécie humana pela Terra.


Libertários e o Vale do Silício


O libertarianismo, também chamado de anarcocapitalismo, entre outros, é uma visão política pouco conhecida pelo público em geral, abertamente defendida pelo nobel Milton Friedman (1912-2006) e traduzida em romance pela Ayn Rand (1905-1982) no livro A Revolta de Atlas, qual advoga pela entre mínima e completa supressão da figura do Estado.


A primeira transação em Bitcoin ocorreu em 3 de janeiro de 2009, em plena Crise do Subprime, evento que levantou uma série de questões e preocupações sobre a responsabilidade e capacidade do Estado de realmente promover a estabilidade econômica.


O timming foi absolutamente perfeito. Tanto os libertários quanto os inovadores do ramo de tecnologia do Vale do Silício aderiram e divulgaram massivamente a bitcoin. E tudo o mais foi uma cadeia orgânica de eventos que nos levou ao presente momento, isto é, do total fascínio quanto ao conceito de Blockchain, criação de inúmeras outras criptomoedas, o desenvolvimento de toda uma indústria, incluindo a sua negociação na Bolsa de Chicago, e

todas as já bem conhecidas polêmicas e controvérsias oriundas delas.


O valor da bitcoin


Provavelmente umas das coisas que as pessoas têm mais dificuldade de entender é como se define o valor de uma bitcoin ou qualquer outra criptomoeda. É curioso alguém se questionar quanto a qual o valor concreto de um bitcoin quando, por outro lado, provavelmente não sabe responder a pergunta de qual o valor concreto do dólar ou do real.

Mas vamos devagar.


Imagina que no mundo não existisse o conceito de dinheiro. Neste caso, teríamos que voltar ao escambo, isto é, a troca direta de mercadorias por outras mercadorias ou serviços. A princípio, é plenamente possível, embora pouco prático. Um produtor, por exemplo, de laranjas, poderia pagar tudo o que gostaria em laranjas, seja mil laranjas por um celular,

sejam duzentas por um aluguel.


Como é muito difícil transportar e estocar laranjas, uma solução possível é um intermediador, ou seja, alguém que troca todo tipo de produto que qualquer pessoa tenha ou produza por outro de valor estável e de fácil transporte, como o ouro.


Deste modo, todos os produtores de qualquer tipo de coisa, bem como todos os trabalhadores que recebem os seus salários na forma de produtos iriam até o Banco de Ouro, trocariam seus bens por ouro, e, por conseguinte, usariam seu ouro para comprar

outros produtos. Simples.


O ouro, o cobre, a prata, o trigo, o sal e muitos outros produtos já foram utilizados como moeda de troca ao longo da história, aí veio a invenção do dinheiro, que, ao invés das pessoas carregarem gramas de ouro por aí, passaram a levar um certificado (dinheiro) que

ela tinha aquele ouro, qual estava depositado em um banco.


Assim, as pessoas passaram a trocar certificados (dinheiro) em vez de ouro ou qualquer outro produto. Os bancos perceberam que as pessoas raramente iam as agências reclamarem o metal precioso, e começaram assim a emitirem mais certificados (na forma de empréstimos) do que possuíam efetivamente em ouro. Essa foi a origem do conceito de Reserva Fracionada, mais tarde legitimado pelos governos do mundo, que permite que os bancos emprestem muito mais dinheiro do que realmente o banco possui para emprestar.


A criação de “valor” sem mais ter um bem efetivo atrelado, como era com o ouro, produziu a atual sociedade e Estado baseados em dívida. O banco, ao emprestar um valor que não possui e ao ganhar juros sobre um valor que não possui, simplesmente é uma máquina transloucada de criação de dinheiro do nada. Porém, quando se cria dinheiro do nada também se cria uma dívida “com o todo”. Não por acaso, as dívidas públicas de quase todos os governos do mundo são sempre na casa de trilhões (Dívida Pública Brasileira: R$ 3,55 trilhões, Dívida Pública Francesa: EUR$ 2,2 trilhões, Dívida Pública EUA: US$ 21 trilhões).


Essa criação de dinheiro descontrolada gera os processos inflacionários, uma capitalização desbalanceada na economia de um dinheiro que não deveria estar onde está, o que resulta na potencialização e virulência da crises, bem como diminui o intervalo dos ciclos econômicos, ou seja, a cada dia que passa, é de se esperar crises cada vez mais frequentes e cada mais severas, em todos os lugares do mundo.


O dinheiro, sendo, no fim das contas, um produto, que atribuímos um valor com base na fé-pública, é, como qualquer produto, um meio de troca. Em última instância, o preço da moeda é o resultado do valor que todos os participantes do mercado como um todo dão a ela, pela sua capacidade de ser trocada por outros bens ou serviços.


A bitcoin, como qualquer outra criptomoedas, é um produto, que se atribui valor, da mesma forma que o dinheiro convencional, baseado no que se pode trocar por ela, e, por conseguinte, por quantas delas serão necessárias. Já tivemos experiências similares.


No passado, anos 90, se usava, na forma de papel, Vale-Transporte e Passe para transporte público, porém esses mesmos papéis, como se fossem dinheiro, eram passíveis de troca por dinheiro, reais, ou produtos. É provável que qualquer pessoa com quarenta anos ou mais já tenha, pelo menos na adolescência, comprado hot-dogs com vale-transporte em papel, como se o mesmo fosse dinheiro. Aliás, nos anos 90, quase todo tipo de pequeno comércio aceitava passe, vale-transporte ou vale-refeição como se fosse literalmente dinheiro. O bitcoin é, basicamente, a mesma coisa, porém digital,

não-governamental, descentralizado e mais confiável.


Nos presídios e cadeias não se usa dinheiro, mas cigarros, e tudo pode ser comprado e trocado em “quantidade de cigarros”, como se o cigarro, por si só, fosse uma moeda. O bitcoin é basicamente a mesma coisa, ou seja, uma substituição do uso da moeda de troca.


Oscilações da bitcoin


É interessante notar a preocupação e medo com que as pessoas acompanham as variações brutais no valor das criptomoedas, como se isso fosse algo realmente raro no

dia-dia das pessoas.


Na verdade, é justamente o oposto, raro é aquilo que não oscila de preço constantemente. É muito provável, inclusive, que o preço do tomate oscile muito mais que o da bitcoin, aliás, a bitcoin ao menos tem um preço uniformemente variado para compra em reais ou qualquer outra moeda em qualquer lugar que você esteja. Os preços dos produtos agropecuários bem como dos combustíveis não só oscilam violentamente como são encontrados com diferenças absurdas entre pontos de venda na mesma rua ou avenida. Se a gasolina fosse negociada na bolsa, teria que ter mais de mil cotações diferentes simultaneamente, a depender de em qual ponto de qual rua de qual cidade e em que estado, no Brasil, você

desejaria comprar.


O real também oscila constantemente, só não somos sensíveis a isso. Note, se você recebesse o seu salário em bitcoins e pagasse suas contas e fizesse compras no mercado, tudo em bitcoin, você provavelmente não ligaria a mínima para a oscilação. Se com 1 bitcoin você comprasse um carro popular cujo preço fosse 1 bitcoin, ainda que a criptomoedas caísse 20% em relação ao real, 1 bitcoin continuaria comprando 1 carro popular, pois o

preço é em bitcoins, não em reais.


Riscos


Muito se fala em riscos e perdas que fulano ou beltrano teve com bitcoins, mas, ao ouvir essas histórias, raramente as pessoas investiam realmente em bitcoins. Aliás, não se é adequado dizer que investe em bitcoins, apenas troca-se a moeda. A bitcoin é uma moeda de troca e não algo que produz, como uma empresa, para que possa se investir.


Para comprar e vender bitcoins é preciso se cadastrar numa Exchange de Criptomoedas, que atua como se fosse uma corretora de câmbio, e, ao adquirir o produto, isto é, a moeda, é gerado um código criptografado e único no mundo que só você possui, o qual, inclusive, pode fazer download, como se fosse um arquivo, e entregar em mãos a alguém, através de

um pen-drive.


A ação supracitada é muito diferente de investir em uma mineradora de bitcoins, neste caso, a pessoa estaria investindo em uma mineradora de bitcoins e não comprando realmente a criptomoedas. Se a pessoa perder dinheiro porque a mineradora faliu ou era uma fraude estará sendo extremamente imprecisa ao afirmar que perdeu dinheiro “com bitcoins”. Seria algo estapafúrdio como dizer que investiu e perdeu dinheiro com o Banco Neon, que faliu recentemente, mas, em vez de dizer, “perdi dinheiro ao investir no Banco Neon” dizer “perdi

dinheiro investindo em ‘reais’”.


As maiores inimigas da bitcoin


As maiores inimigas da bitcoin, que utilizam técnicas flagrantemente de sabotagem são as instituições financeiras, como os bancos. Os bancos do mundo todo vêm, consistentemente, fechando as contas bancárias das Exchange de bitcoins, alegando “desinteresse comercial”. Essas atuações abertamente anticompetitivas visam inviabilizar a troca de moedas, e, como resposta, em alguns países do mundo, estão sendo criados bancos pelas próprias exchanges, por libertários ou pelos mais bem abastados da comunidade bitcoin.


A outra grande inimiga da bitcoin é a ignorância. As pessoas, em geral, não entendem, não procuram entender, mas não se intimidam em julgar e opinar, dissipando informações errôneas, incompletas, enganosas e contrainformações sobre as criptomoedas. E não me refiro apenas as pessoas comuns, mas não obstante as grandes mídias conhecidas.


Não estou dizendo ou encorajando a qualquer pessoa no sentido de que deve ou não investir ou comprar bitcoins ou qualquer outra criptomoeda, o que estou dizendo é que as criptomoedas serão o futuro que já começou, então, cedo ou tarde, todos teremos que

entender como funciona e como se transaciona.


Os próprios bancos já estão desenvolvendo a própria moeda ou tentando integrar as já existentes. A comunidade Blockchain já foi enfática no sentido de que sabotará qualquer moeda desenvolvida e controlada pelos bancos comuns ou centrais. Sim, a briga é boa, mas se os bancos estão incomodados, é porque a briga ficará melhor ainda.


Mateus Davi Pinto Lucio

GR Canis Majoris

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